Gaslighting – A Manipulação Individual e Coletiva: Bem-vindo ao Admirável Mundo Velho

O termo gaslighting é baseado na peça teatral de 1938: Gas Light do dramaturgo Patrick Hamilton e trata da manipulação psicológica sistemática de uma mulher pelo seu marido.

Em resumo, o marido tenta convencer a esposa (e outras pessoas) que ela é louca, realizando pequenas manipulações do ambiente e negando as confirmações de percepção da esposa, acusando-a de delírio. O título da peça faz referência ao modo como o marido apaga lentamente as luzes (a gás) negando à esposa que isto está acontecendo.

A peça também inspirou o filme de 1944 (Gaslight) com elenco de peso da época. No Brasil o filme veio com o título de À meia luz.

Mesmo com tantas referências relativamente recentes pelo menos para mim este tema é novo, apesar da inevitável analogia com os tempos atuais, mostrando a  atemporalidade do texto: este modus operandi[1] persiste fortemente. Basta constatar as narrativas que a “imprensa” apresenta que descolam da realidade. Narrativas que se forem questionadas te levam a classificação de  louco, racista, intolerante ou antidemocrata.

Manipulação de alguém próximo

A crueldade da manipulação vindo de alguém em quem se confia, que é próxima a você, é descrita no livro O fenômeno Gaslighting[2] que trata das estratégias de pessoas manipuladoras para distorcer a verdade e manter você sob controle.

Não li o livro e não sei o quanto apela para o “vitimismo” tentando colocar a culpa de tudo que ocorre de errado na vida de alguém em outras pessoas. Mas merece atenção por tratar de um tema tão sensível.

Eu me pergunto se ao oferecer uma recompensa por um esforço do meu filho eu o estaria manipulando. “Manipulação do bem”, será que existe isto? Não faltam livros de autoajuda dando dicas de como influenciar pessoas: não seriam formas de manipular alguém próximo? Mas estes livros são campeões de venda, então este tipo de manipulação pode?

Manipulação do coletivo

O livro 1984 de George Orwells (publicado em 1949) traz várias referências também muito atuais. Talvez a mais conhecida atualmente seja a do “Big Brother”, banalizada como reality shows de mal gosto.

Mas a relação mais gritante com Gaslighting é a manipulação constante da realidade apresentando notícias contraditórias. Tudo isto feito com o requinte de crueldade da novilingua[3], mantendo a manipulação generalizada belo emburrecimento constante e coletivo.

A novilingua de Orwell mostra o empobrecimento mental refletido na simplificação e extinção das palavras: sem vocábulo para expressar ideias, para que tê-las?

A ficção científica previu que o Estado dominando informações dos cidadãos levaria a regimes ditatoriais. Esta realidade pode ser constatada nos regimes comunistas totalitários (fatos apontando neste sentido não faltam, infelizmente). Mas do outro lado da balança, temos o capitalismo corrompendo as barreiras éticas na manipulação das pessoas tendo como base seus dados pessoas, voluntariamente cedidos através das mídias sociais[4].

Seria uma questão de “evolução moral”: ainda não estamos preparados para lidar com este nível de responsabilidade coletiva para esta sofisticação tecnológica? Talvez… Mas eu não consigo dissimular minha tristeza  de quem escreve e repete “méqui” e não percebe o quanto está sendo manipulado. A começar pelo lixo alimentar que estão tentando te empurrar, com a “simulassão” de que “é do seu jeito”, escrito incorretamente para se aproximar de você.

É cilada: não caia nessa conversa!


[1] Modus operandi é uma expressão em latim que significa “modo de operação”. [i] Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo geralmente os mesmos procedimentos. [ii] Tratando esses procedimentos como se fossem códigos. pt.wikipedia.org/wiki/Modus_operandi.

[2] Livro: O Fenômeno Gaslighting da psicóloga Stephanie Moulton Sarkis.

[3] A novilíngua era desenvolvida não pela criação de novas palavras, mas pela “condensação” e “remoção” delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento. pt.wikipedia.org/wiki/Novilíngua

[4] O dilema das redes: documentário da Netflix.

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