Desliga esse celular!

Qual pai que nunca disse isto na última década?

Quando meu filho me pediu um telefone celular eu imaginei que nós dois teríamos mais um canal de comunicação. Inocentemente acreditei que ele me ligaria para dizer que estava atrasado mas chegaria bem em casa com um pequeno atraso por causa da chuva. Tolinho que fui…

O smartfone fortaleceu os laços comunicacionais com os amigos, isto sim. A concorrência é desleal: os amigos dizem tudo o que ele quer ouvir. Enquanto o pai chato só “pega no pé”.

Acredito que na época eu não tenha dado esse mal exemplo[1]: eu não usava smartfones. Era voz e SMS (os torpedos). Mas ele certamente aprendeu observando o grupo de convívio, que na época era basicamente composto por colegas de escola.

Isto não quer dizer que não tenho minha parcela de responsabilidade. Certamente ele aprendeu comigo também. Ou por estar trabalhando ou, mais recentemente, por também estar VICIADO na telinha.

E nossa natureza é cruel… Nós mamíferos (e os robôs boxeadores que surgirão no futuro) aprendemos por imitação, para fazermos parte do grupo. Diferente dos peixes, que de ovos viram peixes e depois de adultos voltam para procriar no mesmo lugar onde nasceram, sem que alguém os ensinassem.

Gostaria de saber como trazer os gostos virtuais do meu filhote para o mundo físico. Ia escrevendo mundo “real”. Mas quem pode nos provar que não estamos no fundo da caverna de Platão ou na Matrix?

Tento enviar textos e imagens engraçadas sobre assuntos comuns. Mas isto não arranha a superfície. Algumas regras talvez possam passar a fazer sentido. Como proibição de celular a mesa durante as refeições. Mas só consigo agenda para almoçar a mesa com meu filho duas a três vezes das vinte e uma refeições principais da semana. Cada vez mais vou chegando a conclusão de que meu filho só reage aos maus estímulos, principalmente os meus!

Então antes de tentar resolver como meu filho vai desapegar do celular, eu tenho que fazer o mesmo. Educação por exemplo. Sempre acreditei nisto, talvez por não ser o caminho fácil.  Mas o vício é danado de grudento. Como concorrer com as mensagens maravilhosas sobre os assuntos que eu adoro no grupo do aplicativo de troca de mensagens? Não sei!

Um monte de teorias devem produzir receitas de bolo bem genéricas. Minha pesquisa sobre isto foi superficial. Mas o tema preocupa e não é de hoje. Assisti à apenas uns dois episódios da série de TV paga Black Mirror, mas deu pra sacar que o fascínio do celular e do mundo virtual é perigoso. Muito perigoso. E tem nome: nomofobia[2].

Eu já tenho deixado o celular com o mínimo de notificações e ele é carregado longe de mim. Mas ainda não resisto aos atalhos na tela inicial e ao receio de colocá-lo em modo avião. Parece que perderei algo importante. Mas a verdade é que já estou perdendo: o convívio do meu filho!

Só para exemplificar, encontrei numa pesquisa que a média que as pessoas visualizam a tela do celular é de 52 vezes por dia e passam 3 horas e 57 minutos usando o smartphone. Tenho certeza de que não passo metade deste tempo por dia com ele…

Mea culpa !

Luiz Gustavo Rivelo
Pai (viciado em celular) do Victor


[1] Mas certamente sou fonte de centenas de outros mal exemplos…

[2] Viva o Gloogle por me ensinar estes nomes tão peculiares. Excelente sugestão de nome para o próximo “pet”. Um papagaio chamado nomofobia ia ser bem irado. Mas a definição é: o medo irracional de ficar sem o seu telefone celular ou ser incapaz de usar o telefone por algum motivo, como a ausência de um sinal, o término do pacote de dados ou a carga da bateria. 

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